Você está com seu filho que tem um ano de idade e que está iniciando um quadro de virose, apresentando coriza e febre de cerca de 38,5 ℃.
Repentinamente você percebe que ele começa a se contorcer, salivar, apresentar visível tremelique da cabeça e do olhar. E logo em seguida passa a se debater.
Você então fica meio sem saber o que fazer e chama por ajuda para levá-lo à emergência. Já na ambulância, cerca de dez minutos depois a crise cessou e seu filho fica sonolento.
Ele nunca havia apresentado um episódio semelhante previamente, isto deixa você surpreso e preocupado com o que possa estar ocorrendo.
Ao chegar na emergência, ser avaliado e medicado para febre, seu filho volta ao normal.
Após avaliação e realização de exames, você é informado pela equipe médica que seu filho teve uma convulsão febril.
Eu sou o Doutor Francinaldo Gomes, médico neurocirurgião, especialista em neuromodulação, epilepsia e cannabis medicinal, e neste artigo irei esclarecer as suas dúvidas a convulsão febril e convulsão febril infantil.
O que é convulsão febril
A convulsão febril é um tipo de convulsão generalizada, ou seja, que acontece com sintomas de:
- Perda de consciência da criança
- Abalo generalizado nos braços e pernas
- Virada dos olhos
- Dificuldade de respiração
Costuma durar poucos minutos, sempre em crianças pequenas de poucos meses a alguns anos de vida. Associadas a elevação rápida da temperatura corporal, um quadro febril devido a uma infecção como resposta do cérebro dessa criança a condição e a velocidade da elevação da febre.
Mesmo orientando pais e familiares sobre a benignidade da crise convulsiva febril, que dura pouco tempo e não é muito grave.
Ainda assim, durante o ataque, os sintomas apresentados pela criança podem ser desesperadores para quem está presenciando.
As crises convulsivas febris podem ser simples quando duram de segundos até cerca de 10 a 15 minutos e não voltam em um período de 24 horas ou menos. Neste tipo de crise, os abalos costumam ocorrer nos dois lados do corpo e de forma generalizada
As crises que duram mais de 15 minutos, onde os abalos ocorrem em apenas um lado do corpo da criança ou que voltam no período de 24 horas ou menos da primeira crise são chamadas de convulsão febril complexa. E podem indicar uma evolução mais séria.
Entre os fatores de risco para ocorrer a convulsão febril, o maior deles é sem dúvida a idade menor.
Estas convulsões ocorrem sobretudo em crianças de 6 meses até 3 ou 4 anos de idade. Raramente antes ou após esta faixa etária as convulsões febris costumam ocorrer. Se houver histórico de familiares com o mesmo problema, o alerta também deve ser dado.
A crise convulsiva febril é o problema neurológico mais comum durante a infância, as convulsões associadas a febre são eventos comuns nos departamentos de emergência
Ocorrendo em 2% a 5% das crianças até 5 anos de idade, e são responsáveis por aproximadamente 50% de todas as convulsões em crianças nesta faixa etária.
Convulsão febril: por que ocorre?
As convulsões febris são convulsões desencadeadas por uma febre de pelo menos 38 graus ℃. Ela ocorre por conta de uma fragilidade do cérebro da criança e da elevação da temperatura corporal.
Entretanto, não ocorre necessariamente com altas temperaturas corporais, como o senso comum costuma indicar, e sim quando a temperatura corporal varia muito rapidamente.
Este é um dos motivos pelos quais os pais muitas vezes são tomados de surpresa pelo episódio de convulsão, antes mesmo de perceber a febre na criança
Convulsão febril pode matar?
Na maioria das vezes, não acontece nada com uma criança que tem convulsão febril. Apesar do que se aparenta, este tipo de crise é muito benigno e a maioria absoluta das crianças não terá nenhuma lesão cerebral, retardo no desenvolvimento, prejuízo na inteligência ou dificuldade de aprendizado.
Também é importante dizer, não significa que a criança que tem crises convulsivas febris terá epilepsia, esta chance é de cerca de 1%, ou seja, muito pequena.
A maior preocupação dos pais e dos pediatras é se as crises convulsivas febris voltarem mais e mais vezes.
Esta recorrência de crises pode acontecer e é um dos focos do tratamento, se houver histórico familiar próximo com convulsões febris, as convulsões vierem com níveis mais baixos de febre ou em idade menores, como por exemplo, crianças com menos de 15 meses de vida.
Se a criança tem tendência a ter febre frequentemente ou com níveis mais altos. Ou o período entre o começo da febre e a crise convulsiva for mais curto, a chance de novas crises costumam ser maiores.
Convulsão febril: sintomas e sinais
Em geral os episódios apresentam duração de poucos segundos a minutos, porém a aparência costuma ser angustiante para quem está observando.
A criança perde a consciência, apresenta em geral:
- Desvio dos olhos para cima
- Postura de rigidez do corpo
- Movimentos crônicos dos membros (semelhantes a um tremor grosseiro) seguido de um período de sonolência.
A criança acometida entretanto não se lembra do que aconteceu.
Atente-se para a diferença de uma convulsão febril para os tipos de epilepsia.
O que fazer durante a convulsão?
A primeira coisa é manter a calma, deitar a criança e apoiar sua cabeça em uma superfície macia. Virando a cabeça para o lado, para que a saliva ou alguma secreção saia pela boca naturalmente durante o ataque e não obstrua respiração.
Se puder, peça alguém ou você mesmo conte o tempo que durar a crise. Esta informação é muito importante para o médico. E você poderá ficar tão preocupado e desesperado que nem terá muita noção disso após o quadro ter acontecido.
O tempo de duração da crise é um dos indicadores de maior ou menor gravidade de cada caso.
A duração de uma convulsão febril típica é de alguns minutos, depois disso a criança costuma ficar sonolenta e vai acordando aos poucos. Não se recomenda colocar os dedos dentro da boca da criança para puxar a língua, pois esta ação pode levar a lesão nos dedos de quem tentou apenas ajudar.
É muito importante a mãe, o pai ou familiar documentar se houve febre e o seu nível, que é visto através da medida da temperatura com um termômetro.
Pois a convulsão febril deve ser diferenciada de uma convulsão sem febre, esta dúvida não deve existir.
Muito importante! Nada de tentar baixar a febre da criança no momento da crise, tentar dar remédio pela boca da criança durante o ataque pode piorar a situação, pode causar engasgo ou aspiração levando até a pneumonias.
Depois do término da crise orienta-se ligar para o pediatra para avisar do ocorrido.
Em casos de primeira convulsão febril ou quando não se conhece a causa da febre, é necessário a ida até o hospital. Para um exame médico pediátrico detalhado, para que se verifique o que causou a febre, por exemplo uma infecção. E tratar o foco o quanto antes.
É preciso fazer uma tomografia ou ressonância magnética de uma criança em caso de convulsão febril?
Esta pergunta é muito frequente. Sabe-se que se for convulsão febril de fato muito raramente haverá necessidade de exames de tomografia ou ressonância.
Inclusive a prática de pedido de indiscriminado de tomografia do crânio para crianças que tiveram convulsão febril já foi bastante estudado.
E acreditem, crianças com convulsões febris ou trauma de crânio submetidas a tomografia de crânio, sem que esta necessidade realmente exista, na evolução e reavaliação destas pesquisas houve maior incidência de tumores cerebrais e outros tipos de câncer. Por causa de sua maior exposição ao raio-x, que são necessários para fazer estes exames.
Portanto um recado aos pais e familiares da criança que tem convulsão febril, na grande maioria das vezes não há necessidade de tomografia ou exame de ressonância na avaliação da convulsão febril.
Existem casos raros de meningite de abscesso cerebral que necessitam de exames de imagem para seu diagnóstico.
Então quais exames são importantes?
O primeiro e mais importante exame é a documentação da febre com termômetro ainda em casa.
Se for possível, seguido pelo bom exame clínico do pediatra para ver o local e o foco da febre, por exemplo: ouvido, garganta, abdômen e outros. Assim direcionando seu tratamento
Outro exame importante que na maioria das vezes vem com resultado normal é o eletroencefalograma, feito geralmente depois da fase aguda, em regime ambulatorial
Além destes, exame de sangue, por exemplo, para detectar infecção urinária. O exame do ico, para examinar se há meningite pode ser necessário.
Convulsão febril: Tratamento
No momento da crise é importante lembrar-se de deitar a criança de lado, pois isto melhora a respiração ao evitar a obstrução da via aérea.
Não é necessário segurar a língua, tentar abrir a boca ou evitar os movimentos. Basta afastar a criança de objetos e aguardar, pois os episódios tendem a cessar espontaneamente.
Caso isto não ocorra, é necessário dirigir-se ao atendimento médico mais próximo, onde procedimentos adequados podem ajudar e medicações que interrompam a crise podem ser utilizadas.
Tão importante quanto tratar a crise é determinar a causa da febre. Qualquer febre pode levar à convulsão febril, mas o tratamento da causa da febre pode ser bastante variado.
Pode ser desde um simples resfriado, uma infecção respiratória mais grave,como uma pneumonia ou uma meningite. Por isso mesmo que a crise tenha cessado, ao chegar no atendimento médico, a avaliação médica é imprescindível.
Os antiepiléticos convencionais como: ácido valpróico, carbamazepina e outros medicamentos são os mais usados como preventivos em crianças selecionadas.
Na ocorrência do início da febre, em crianças que já tiveram convulsões febris é importante tratar prontamente a elevação da temperatura com antitérmicos usuais, como: paracetamol, dipirona ou ibuprofeno.
O uso de Diazepam por via retal ou clonazepam sublingual ou outros medicamentos, podem ser usados para abordar possíveis ataques quando a febre documentada em crianças mais sensíveis à recorrência das convulsões febris.
Esses medicamentos podem ser prescritos pelo pediatra ou neuropediatra.
Como prevenir a convulsão febril ?
A prevenção de novos episódios compreende o tratamento medicamentoso da febre e outras medidas anti térmicas para diminuir a temperatura elevada do corpo.
Em alguns casos de recorrência frequente, medicações que controlam as crises convulsivas podem ser necessárias.
Para concluir
A convulsão febril é uma condição extremamente comum, que afeta muitas crianças pequenas e causa temor e ansiedade nos pais e familiares.
Apesar da causa ser ainda desconhecida, acredita-se que ela ocorra por uma hipersensibilidade do cérebro a elevação rápida da temperatura corporal
A grande maioria das crianças não terão maiores problemas com a convulsão febril,não havendo necessidade de tratamento específico, a não ser um controle da temperatura.
Com amadurecimento do sistema nervoso que ocorre com o avançar da idade as crises costumam desaparecer
O diagnóstico e o tratamento correto, bem como a orientação correta dos pais e familiares são essenciais para o sucesso e para o bem-estar da criança. Evitando o uso desnecessário de exames e de medicamentos para a epilepsia.
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Dr. Francinaldo Gomes é Neurocirurgião. Mestre em Neurociências. Membro da Comissão de Apoio, Qualificação e Gestão Empresarial da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia.
Número de registro: CRM 6346 PA – RQE 3805 CRM 103790 SP – RQE 30517