Eu sou o Doutor Francinaldo Gomes, médico neurocirurgião, especialista em neuromodulação, epilepsia e cannabis medicinal, e neste artigo irei esclarecer as suas dúvidas sobre epilepsia.
O que é epilepsia?
A epilepsia é um problema de saúde real, que merece atenção e cuidado redobrado. Em geral, ela é causada por pequenas alterações e lesões na região do cérebro e pode ter origens múltiplas.
De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, cerca de 1% da população do mundo é acometida pela doença. Ainda assim, a doença ainda é cercada de equívocos.
Neste artigo você irá aprender mais sobre essa doença, os seus sintomas e vários de seus outros aspectos.
Quais são os sintomas da epilepsia?
Indivíduos afetados pela epilepsia podem ter contrações musculares e movimentos involuntários bastante fortes. O ataque epiléptico – a conhecida crise convulsiva – pode causar perda de equilíbrio de forma severa, contratura dos músculos do corpo, produção excessiva de saliva e perda de consciência.
Acredita-se que fatores hereditários ocasionem a doença.
Porém, pancadas fortes na cabeça, abuso de substâncias ou malformações congênitas também podem engatilhar quadros do gênero.
Quais as causas da epilepsia?
As principais causas da epilepsia são:
- AVC (acidente vascular cerebral);
- tumores cerebrais;
- traumatismos cranianos;
- nascimento prematuro;
- anóxia neonatal (falta de oxigênio no cérebro durante o parto);
- problemas de metabolismo desde o nascimento;
- malformação congênita, como hidrocefalia;
- traumas no parto.
O que uma pessoa com epilepsia não pode fazer?
É aconselhável que uma pessoa com epilepsia:
- Evite o consumo de álcool. Beber esporadicamente e em pequenas doses não costuma afetar radicalmente a vida das pessoas com a doença, porém o álcool pode interagir com os medicamentes e causas crises.
- Evite baladas ou festas com luzes piscantes. Luzes intermitentes podem desencadear crises epilépticas.
- Evite ficar estressado.
- Não misture medicações.
- Evite dirigir veículos sem a liberação do médico.
Ainda, sempre converse com o seu médico sobre os remédios que você está tomando e sobre a interação que eles têm com outros medicamentos ou substâncias.
Assim, não faça uso de rótulos que não conhece, mesmo para cuidar de problemas de saúde ou incômodos pontuais.
O que uma pessoa com epilepsia não pode comer?
Algumas epilepsias podem estar associadas a deficiência de algumas enzimas do metabolismo dos açúcares e de alguns aminoácidos. Nesse grupo de pacientes realmente é preciso ter cuidado especial com a alimentação. A depender do consumo excessivo de carboidratos ou de alguns aminoácidos esses pacientes podem apresentar maior incidência de crises.
Esses defeitos enzimáticos são pouco frequentes e na maioria dos casos não existe nenhum alimento realmente proibido.
Epilepsia piora com o tempo?
As epilepsias são doenças que costumam mudar com o tempo, basicamente em decorrência dos efeitos das crises sobre o tecido cerebral.
Sabemos que o controle inadequado das crises convulsivas, devido ao dano neuronal que a crise provoca, predispõe a ocorrência de novas crises além de outras alterações cognitivas. Portanto, se a doença não for devidamente tratada, ela costuma sim piorar com o tempo.
Entretanto, existem tipos de epilepsias que podem melhorar com o tempo em decorrência do amadurecimento cerebral. Tais epilepsias são ditas benignas e costumam responder bem ao tratamento medicamentoso.
Quais as consequências da epilepsia?
Caso as crises convulsivas não sejam devidamente controladas, podem refletir em déficits cognitivos (em atenção, memória, linguagem, planejamento, etc), alterações no sono, depressão, alterações de comportamento, traumatismos cranioencefálicos e mesmo danos em outros órgãos como rins, pulmões, músculos em casos de crises prolongadas (estado de mal epiléptico).
Também, podem ocorrer consequências decorrentes do uso de medicações como sonolência excessiva, esquecimento, desatenção, alteração de comportamento, redução da libido, problemas hepáticos e renais.
Morte súbita na epilepsia
Uma das consequências mais temerárias das convulsões incontroláveis é a morte súbita.
Ela é definida como morte repentina e inesperada, com ou sem testemunhas, não traumática e sem afogamento em pessoas epiléticas, com ou sem documentação de convulsão, excluindo-se os casos nos quais o exame post-mortem não tenha revelado a presença de causas estruturais ou toxicológicas.
O risco de morte súbita aumenta consideravelmente com os seguintes fatores:
- Aumento na frequência das convulsões;
- Uso de politerapia;
- Paciente do sexo masculino;
- Retardo no desenvolvimento;
- Posição em prono na cama;
- Idade entre 20 e 40 anos.
Não se conhece com detalhes o fator responsável por uma proporção substancial de mortes em pacientes com epilepsia incontrolável e convulsões recentes, de modo que se enfatiza a necessidade de adesão ao tratamento.
Epilepsia piora outras doenças?
Em geral as epilepsias não costumam piorar outras doenças, exceto quando não tratadas adequadamente. Dentre as doenças que podem piorar estão a depressão, transtornos de ansiedade e distúrbios de memória e do sono.
Existem estudos mostrando que tanto doenças como a depressão e distúrbios do sono podem piorar a epilepsia quanto as epilepsias podem piorar estas doenças. Por isso é importante o acompanhamento médico multidisciplinar para obter o melhor controle destas doenças.
Alguns estudos mostraram que algumas condições psiquiátricas, como depressão e ansiedade, são mais comuns nos casos de epilepsia refratária em comparação com outros grupos. Aparentemente, a depressão também é um “fator de risco” para a doença e, sem dúvida, para o suicídio.
O risco de suicídio é mais elevado em pacientes epiléticos, sendo responsável por 5 a 10% de mortes, em comparação com 1,4% na população em geral. A epilepsia de novo início aumenta o risco, sobretudo em indivíduos com enfermidade psiquiátrica associada.
Epilepsia e transtornos alimentares
Para as pessoas com epilepsias como Síndrome de West e Síndrome de Lennox-Gastaut existe o tratamento por meio da dieta cetogênica, uma dieta específica que visa o controle das crises.
Alguns medicamentos antiepilépticos como o ácido valproico e os benzodiazepínicos podem aumentar o apetite, levando ao ganho de peso. Outros, como o topiramato, costumam reduzir o apetite, levando a perda de peso.
Para algumas pessoas o cannabidiol usado no tratamento da doença também podem aumentar o apetite.
Sintomas de epilepsia durante o sono
A epilepsia do sono é um tipo específico que ocorre durante o sono. Temos um vídeo no meu canal falando apenas sobre este tema.
As epilepsias do lobo frontal costumam ser influenciadas pelo sono, sendo que as crises costumam ocorrer com maior frequência durante a noite e os espasmos musculares costumam ser percebidos pelo acompanhante.
Muitas vezes os sintomas podem passar despercebidos durante a noite. A pessoa acorda sentindo-se cansada ou mesmo fatigada, pode estar urinada e com dores no corpo e até mesmo com sinais de mordedura da língua.
Conclusão
As epilepsias são frequentes e costumam estar relacionadas a outros transtornos orgânicos e psiquiátricos. As pessoas com essa doença podem levar uma vida próximo do normal e tem algumas restrições no sentido de evitar a ocorrência de crises e também de evitar danos a si próprios e a terceiros.
Atenção especial deve ser dada ao risco elevado de morte súbita e de suicídio em pessoas com epilepsia.
O atendimento correto da doença e de suas consequências, bem como o desenvolvimento de uma rede de suporte global à pessoa com epilepsia e seus familiares ajudam a minimizar as consequências da doença.
Leia também: Quando consultar um neurocirurgião?
Coloque em prática o que aprendeu neste artigo.
Dr. Francinaldo Gomes é Neurocirurgião. Mestre em Neurociências. Membro da Comissão de Apoio, Qualificação e Gestão Empresarial da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia.
Número de registro: CRM 6346 PA – RQE 3805 CRM 103790 SP – RQE 30517