Microcefalia: Neurocirurgião Explica Tudo Sobre a Doença (2023)

Você sabe o que é microcefalia? Quais são as suas causas e sintomas? Se essa doença tem cura ou não?

Eu sou o Doutor Francinaldo Gomes, médico neurocirurgião, especialista em neuromodulação, epilepsia e cannabis medicinal, e neste artigo irei esclarecer as suas dúvidas sobre a microcefalia.

O que é microcefalia?

A microcefalia é uma condição neurológica caracterizada pelo tamanho diminuto da cabeça e do cérebro de um bebê, comparado aos valores de referência para sua idade e tamanho.

Algumas crianças com microcefalia podem ter um desenvolvimento e uma inteligência normal, mesmo com o cérebro em menor tamanho, na modalidade da condição chamada de microcefalia leve. No entanto, outras crianças podem ter atrasos e problemas de desenvolvimento mental, físico e motor, que estão diretamente relacionados ao tamanho reduzido do cérebro.

A microcefalia pode acontecer por motivos diversos, como uma carga genética, onde os pais tenham o gene da microcefalia, apesar de não manifestá-la, ou a craniossinostose, que é a fusão precoce dos ossos do crânio do bebê ainda na barriga da mãe (sendo que a formação do crânio costuma terminar quando a criança já tem uma idade mais avançada).

A craniossinostose, por sua vez, pode ser causada pelo abuso de drogas e medicamentos, além de doenças como a rubéola, toxoplasmose e varicela contraídas pela mãe.

Além disso, a Síndrome de Down e outras síndromes congênitas também podem causar a microcefalia.

Quais as causas de microcefalia?

Uma das principais causas relacionadas com a microcefalia é a infecção pelos vírus Zika e Chikungunya durante a gravidez, especialmente no primeiro trimestre de gestação. No entanto, essa situação também pode acontecer devido à:

  • Infecções como rubéola, citomegalovírus e toxoplasmose;
  • Consumo de cigarro, álcool ou drogas, como cocaína e heroína durante a gravidez;
  • Síndrome de Rett;
  • Envenenamento por mercúrio ou cobre;
  • Meningite;
  • Desnutrição;
  • HIV materno;
  • Doenças metabólicas na mãe, como fenilcetonúria;
  • Exposição à radiação durante a gestação;
  • Uso de medicamentos contra epilepsia, hepatite ou câncer, nos primeiros 3 meses de gravidez.

A microcefalia também pode ser genética e acontece em crianças que possuem outras doenças como síndrome de West, síndrome de Down e síndrome de Edwards, por exemplo.

Por isso, a criança com microcefalia que também possui alguma destas síndromes pode ter outras características físicas, incapacidades e ainda mais complicações do que as crianças que possuem somente microcefalia.

aedes aegypti microcefalia

Quais são os sintomas de microcefalia?

A principal característica de microcefalia é a cabeça e o cérebro menor do que o normal para a idade da criança, o que não gera sintomas, no entanto pode comprometer o desenvolvimento da criança, podendo haver:

  • Problemas visuais;
  • Perda de audição;
  • Atraso mental;
  • Déficit intelectual;
  • Paralisia;
  • Diminuição da força;
  • Convulsões;
  • Epilepsia;
  • Autismo.

Esta condição também pode levar ao surgimento de rigidez dos músculos do corpo, conhecida cientificamente como espasticidade, pois esses músculos são controlados pelo cérebro e no caso da microcefalia esta função fica prejudicada.

microcefalia

Quais os tipos de microcefalia?

Alguns estudos dividem a microcefalia em alguns tipos, como:

Microcefalia primária

Este tipo ocorre quando existem falhas na produção de neurônios, que são células cerebrais, durante o desenvolvimento fetal.

Microcefalia pós-natal

É o tipo em que a criança nasce com o tamanho do crânio e do cérebro adequado, mas o desenvolvimento destas partes não acompanha o crescimento da criança.

Microcefalia familiar

Acontece quando a criança nasce com o crânio menor, mas não apresenta alterações neurológicas, sendo que isto ocorre porque os pais da criança também têm a cabeça menor.

Microcefalia relativa

É um outro tipo de microcefalia, em que crianças com problemas neurológicos apresentam problemas de crescimento do crânio, porém é uma classificação muito pouca utilizada pelos médicos.

E ainda, alguns estudos classificam a microcefalia como primária, quando os ossos do crânio do bebê se fecham durante a gestação, até os 7 meses, ou secundária, quando os ossos se fecham na fase final da gravidez ou após o nascimento do bebê.

Qual é o tempo de vida de uma criança com microcefalia?

O tempo de vida varia de acordo com a causa, podendo ser de horas, dias ou mesmo a criança pode viver e chegar a vida adulta, dependendo da causa e dos tratamentos que forem utilizados.

Qual a diferença de microcefalia e hidrocefalia?

A microcefalia é a redução do tamanho da cabeça abaixo do normal para a idade.

Já a hidrocefalia é o acúmulo de líquido na cabeça, levando ao aumento da mesma e prejuízo no desenvolvimento da criança.

O que é microcefalia grave?

 A microcefalia grave é definida como um perímetro cefálico menor do que um valor ainda mais baixo, normalmente menor que três desvios-padrão (DP) abaixo da média em recém-nascidos da mesma idade e sexo.

Isso significa que a cabeça do recém-nascido é extremamente menor do que a de recém-nascidos da mesma idade e sexo.

Qual o perímetro cefálico normal?

O perímetro cefálico (PC) varia conforme a idade gestacional do bebê. Assim, na maioria das crianças que nascem após nove meses de gestação, o PC de 33 cm é considerado normal para a população brasileira, podendo haver alguma variação para menos dependendo das características étnicas e genéticas da população.

Quais os tratamentos para microcefalia?

O tratamento da microcefalia deve ser orientado por um pediatra e neurologista, porém é necessária a intervenção de vários outros profissionais como enfermeiros, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, que irão ajudar a criança a se desenvolver com o mínimo de limitações possíveis de forma a ter uma maior qualidade de vida.

O tratamento varia, então, de acordo com cada caso, especialmente de acordo com as limitações de cada criança. Ainda assim, as formas de tratamento mais utilizadas incluem:

1. Terapia da fala

Para melhorar a capacidade para falar a criança deve ter acompanhamento de um fonoaudiólogo pelo menos 3 vezes por semana.

Além disso, os pais devem cantar com a criança pequenas músicas e falar com ela olhando nos olhos durante todo o dia, mesmo que ela não responda ao estímulo.

Também deve-se usar gestos para facilitar o entendimento do que está sendo dito e captar melhor a atenção da criança. Confira outras brincadeiras que podem ser feitas para estimular a fala.

2. Sessões de fisioterapia

Para melhorar o desenvolvimento motor, aumentar o equilíbrio e evitar atrofia dos músculos e os espasmos musculares é importante fazer o máximo de sessões de fisioterapia possível, pelo menos 3 vezes por semana, realizando exercícios simples com bola de Pilates, alongamentos, sessões de psicomotricidade e hidroterapia.

A fisioterapia é indicada porque pode ter resultados no desenvolvimento físico da criança, mas também porque ajuda no desenvolvimento mental.

3. Terapia ocupacional

No caso de crianças mais velhas e com o objetivo de aumentar a autonomia pode ainda ser indicado pelo médico a participação em sessões de terapia ocupacional, nas quais se pode treinar as atividades diárias, como escovar os dentes ou comer, com o uso de aparelhos especiais, por exemplo.

Para melhorar a capacidade de socialização deve-se também avaliar a possibilidade de manter a criança em uma escola normal para que possa interagir com outras crianças que não possuem microcefalia, podendo participar de jogos e brincadeiras que promovem a interação social.

No entanto, se houver atraso no desenvolvimento mental, a criança provavelmente não irá aprender a ler ou escrever, embora possa ir para a escola para ter contato com outras crianças.

Em casa, os pais devem estimular a criança o máximo possível, fazendo brincadeiras de frente para o espelho, estando do lado da criança e participar sempre que possível em reuniões de família e amigos para tentar manter o cérebro da criança sempre ativo.

4. Uso de remédios

A criança com microcefalia pode precisar tomar medicamentos indicados pelo médico segundo os sintomas que apresenta, como anticonvulsivante para reduzir as convulsões ou para tratar a hiperatividade, como Diazepam ou Ritalina, além de analgésicos, como Paracetamol, para diminuir a dor nos músculos, devido à tensão excessiva.

5. Injeções de Botox

As injeções de Botox, a toxina botulínica podem ser indicadas no tratamento de algumas crianças com microcefalia, porque podem ajudar a diminuir a rigidez dos músculos e melhorar os reflexos naturais do corpo, facilitando as sessões de fisioterapia e os cuidados diários.

Geralmente as injeções de Botox são indicadas quando a criança fica sempre com os músculos intensamente contraídos, involuntariamente, o que dificulta coisas simples como dar banho ou trocar a fralda.

O uso da toxina botulínica é considerado seguro e praticamente não apresenta riscos para saúde, desde que seja utilizado na dose adequada e sempre sob orientação médica.

6. Cirurgia na cabeça

Em alguns casos, pode-se realizar uma cirurgia sendo feito um corte na cabeça para permitir o crescimento do cérebro, reduzindo as sequelas da doença.

Porém, para esta cirurgia ter resultado, ela deve ser feita preferencialmente até aos 2 meses do bebê, e não é indicada para todos os casos, somente para aquelas nas quais a craniossinostose é a causa principal da microcefalia.

Cannabidiol no tratamento da Microcefalia

Há relatos do papel do cannabidiol nos resultados positivos no desenvolvimento neurológico de crianças com microcefalia por Zika vírus, sem nenhum efeito colateral.

Além disso, o cannabidiol tem mostrado efeitos benéficos no controle de crises convulsivas, da irritabilidade e dos transtornos psiquiátricos, que podem ocorrer em crianças com microcefalia.

No entanto, mais estudos são necessários para estabelecer os reais benefícios do tratamento com cannabidiol para crianças com microcefalia.

Microcefalia tem cura?

A cura para microcefalia dependerá da causa. Em geral, quando a causa afeta diretamente o cérebro, não costuma haver cura. Por outro lado, quando a causa afeta o crânio, o tratamento cirúrgico pode curar.

A microcefalia é frequente e exige diagnóstico e tratamento precoces. Dependendo da causa, o tratamento por ir desde medidas de suporte, passando pelos medicamentos e terapias complementares, até a cirurgia. O cannabidiol tem se mostrado promissor em ajudar no controle de alguns sintomas da microcefalia. 

Coloque em prática o que aprendeu com esse texto!

Leia também: Quando consultar um neurocirurgião?

Se o conteúdo deste artigo foi útil, peço que repasse este vídeo para seus amigos e familiares e, principalmente, compartilhe comigo suas dúvidas e experiência em lidar com a microcefalia.

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